Por
Lucas Janusckiewicz Coletta.
O
Tenente-General Ion Mihai Pacepa desertou do serviço de inteligência romeno em
1978 e buscou asilo nos Estados Unidos. Em seus numerosos artigos e livros
publicados, denunciou a chamada desinformação (“dezinformatsiya”), expressão
que foi criada pelos russos no tempo de Stálin para designar o método comunista
de difundir mentiras no Ocidente por meio de organizações não governamentais,
de intelectuais ou da mídia, com o propósito de ludibriar a opinião pública e
as classes governantes, e assim favorecer a vitória do comunismo em todo o
mundo.
.
Sua obra “Desinformação”, recentemente
publicada no Brasil, traz relevantes informações sobre o interesse do Kremlin,
desde os tempos de Stálin, em manipular as religiões. Hoje estamos vendo o
governo russo se servir da chamada “Igreja Ortodoxa Russa”. Com efeito, o
Patriarca Kirill, atual chefe dessa Igreja, realiza neste momento viagem a
Cuba, com a finalidade de se encontrar com o Papa Francisco para uma conversa
de duas horas, e fazerem um pronunciamento conjunto que divulgarão em seguida.
.
É
oportuno que o público católico brasileiro conheça algumas informações
apresentadas no livro “Desinformação”, e que não são divulgadas pelos nossos
meios de comunicação. As citações que dele serão apresentadas a seguir, revelam
a manipulação da Igreja Ortodoxa feita pelo governo russo. Por isso, vemos com
grande apreensão e preocupação esse encontro em Cuba do Papa Francisco com o
Patriarca Kirill.
“O
Arquivo Mitrokhin, uma coleção volumosa de documentos do serviço secreto de
inteligência estrangeiro soviético que foram contrabandeadas para fora da União
Soviética em 1992, dá as identidades e os codinomes da inteligência soviética
de muitos padres ortodoxos russos despachados, ao longo dos anos, para o
Conselho Mundial de Igrejas com o objetivo específico de influenciar a política
e as decisões desse órgão. De fato, em 1972 a inteligência soviética conseguiu
ter o Metropolita Nikodim (agente “Adamant”) eleito presidente do WCC. Um
documento da KGB de 1989 se vangloria: “Mais recentemente, o Metropolita Kirill
(agente “Mikhaylov”), o qual fora um representante influente no Conselho
Mundial de Igreja desde 1971 e, após 1975, um membro do Comitê Central do WCC,
foi em 2009 eleito patriarca da Igreja Ortodoxa Russa” (“Desinformação”, Ion
Mihai Pacepa. Vide Editorial, 2015, p. 31).
***
“No dia 11 de abril de 1945, os bispos católicos ucranianos foram
presos, incluindo o Arcebispo Josyf Slipyj. De 1920 a 1922, Slipyj estudou no
Pontifício Instituto Oriental, em Roma, e na Pontifícia Universidade
Gregoriana. Em 1939, com a benção do Papa Pio XII, Slipyj foi sagrado arcebispo
de Lviv. Tornou-se o líder da IOGU [Igreja Greco-Católica Ucraniana] em 1944. Então,
junto com os outros bispos, foi acusado de colaborar com os nazistas e
condenado a trabalho forçado no gulag siberiano."
-
“Em resposta, Pio XII lançou sua
encíclica Orientales Omnes, de 23 de dezembro de 1945. Nela, o Papa não apenas
condenava o comunismo; ele aberta e especialmente atacava o Patriarca Alexis,
de Moscou. A situação ficou pior de 8 a 10 de março de 1946, quando as
autoridades soviéticas reuniram à força uma assembleia de 216 padres, e fez-se
então o assim chamado Sínodo de Lviv, no qual a Igreja Ortodoxa Grega da
Ucrânia foi “reincorporada” à força à Igreja Ortodoxa Russa e obrigada a
revogar a sua união com Roma. A IOGU [Igreja Greco-Católica Ucraniana] primeiro se tornou uma “Igreja
do Silêncio”, depois uma “Igreja de Mártires”, já que muitos dos católicos
ucranianos confinados pelos comunistas eram torturados e/ou assassinados.” (op.
cit. p. 131).
***
“Ainda não foi encontrada nenhuma pista
concreta da mão da KGB nesta nova guerra secreta contra o mundo cristão, porque
os arquivos da KGB, infelizmente, ainda estão fechados. Mas inclinar o Vaticano
para que eleja papas anti-americanos simpáticos ao Kremlin (...) há muito é o
sonho de Moscou.” (op. cit. p. 264).
***
“No dia 5 de dezembro de 2008, morreu
Aleksi II, o 15º. patriarca de Moscou e de toda a Rússia e primaz da Igreja
Ortodoxa Russa. Ele tinha trabalhado para a KGB sob o codinome de “Drozdov” e
tinha o Certificado de Honra, da KGB, como foi revelado por arquivos da agência
de segurança deixados para trás na Estônia quando os russos foram postos fora
de lá. Pela primeira vez na história, a Rússia tinha a oportunidade de conduzir
a eleição democrática de um novo patriarca, mas isso não seria assim.
“Em 27 de Janeiro de 2009, os 700
delegados do Sínodo reunidos em Moscou receberam uma lista de três candidatos:
o Metropolita Kirill, de Smolensk (membro secreto da KGB cognominado
“Mikhylov”); o Metropolita Filaret, de Minsk (que tinha trabalhado para a KGB
com o codinome de “Ostrovsky”); e o Metropolita Kliment, de Kaluga (na KGB com
o codinome “Topaz”).
Quando os sinos da Catedral de Cristo
Salvador dobraram para anunciar que um novo patriarca tinha sido eleito,
Kirill/”Mikhaylov” veio a ser vencedor. Indiferentemente de se era o melhor
líder para a sua igreja, ele certamente estava em melhor posição para
influenciar o mundo religioso no exterior do que os outros candidatos. Em 1971,
a KGB mandara Kirill para Genebra como representante da Igreja Ortodoxa Russa
naquela máquina de propaganda soviética, o Conselho Mundial de Igrejas (WCC).
Em 1975, a KGB o infiltrou no Comitê Central do WCC, que se tornou um peão do
Kremlin. Em 1989 a KGB também o designou diretor de relações internacionais do
patriarcado russo. Ele ainda detinha estes dois cargos quando foi eleito
patriarca.
“Em seu discurso de aceite, como novo
patriarca, “Mikhaylov” anunciou que planejava fazer uma viagem ao Vaticano em
futuro próximo. Também falou sobre sua intenção de estabelecer canais de
televisão religiosos na Rússia que também transmitiriam para o exterior.
“Na Rússia, quanto mais as coisas
mudam, mais parecem ficar as mesmas. A ciência da desinformação se mostrou uma
arma tão encantadora, que os russos permanecem viciados nela. [...]” (op. cit.
pp. 366-367).
***
“Documentos há pouco liberados da KGB
mostram que metade de todo o clero soviético eram agentes ou empregados
disfarçados da KGB até pelo menos o fim da era Gorbachev.” (op. cit. pp. 468,
nota no. 5).
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